1.02.2009

Dead Kennedys: Quarteto fantástico

Reportagem: Nuno Loureiro

Fotografias: DR

Publicação: Jornal de Notícias (16.07.2002) . (versão online não disponível)


Sangue, suor e… cerveja, muita cerveja. Esta poderia, por certo, ser a “tríplice aliança” a servir de mote ao concerto de estreia dos lendários Dead Kennedys (DK) em Portugal, realizado, anteontem, em pleno palco do bar Le Son, em Coimbra.

À partida, muitas dúvidas se levantavam sobre a prestação de uma banda que, 16 anos após a sua última apresentação ao vivo, em S. Francisco, estava de volta, já sem o carismático vocalista, Jello Biafra, que tem vindo a desenvolver inúmeras colaborações com outros projectos (Lard, Nomeansno e Coldcut são alguns exemplos) e um fantástico trabalho, de cariz político-social, no campo da “spoken-word”.

Dúvidas que foram desfeitas quando uma voz pré-gravada anunciou a “social disorder”, um prenúncio do que se seguiria. Durante hora e meia, e após uma primeira parte assegurada pelo “power-trio” portuense Anti-clockwise, East Bay Ray, D.H. Peligro, Klaus Flouride e Brandon Cruz, ex-vocalista dos Dr. Know, que substituiu Biafra, levaram o público de Coimbra (e não só, devido ao cancelamento do espectáculo previsto para o Hard Club, em Vila Nova de Gaia) ao delírio, com o seu hardcore punk frenético e desconstrutivista.

Numa altura em que a electrónica é já a música do presente, o Le Son viu-se recheado de uma atmosfera típica dos anos 70 e 80, com punks, rockabillies, mods e quarentões saudosistas, que tiveram oportunidade de envergar, de novo, as suas t-shirts dos DK e da editora Alternative Tentacles.

Animal de palco

E o facto é que os DK não os desiludiram. Embora acusando, aqui e ali, o peso dos anos, apresentaram o irreverente repertório que os tornou famosos, criando um verdadeiro tumulto entre a assistência.

O momento alto da noite verificar-se-ia mesmo quando D.H. Peligro gritou “erase racism”, como ponto de partida para a interpretação de “Nazi Punks Fuck Off”. O Le Son quase foi abaixo. Quando se pensava que a confusão não poderia ser maior, o grupo resolveu tocar “California Über Alles”, um dos seus (muitos) hinos.

Sem conseguir fazer esquecer Jello Biafra, Brandon Cruz, que tinha a sua mãe entre o público, cumpriu na perfeição o papel que lhe cabia, assumindo-se como um verdadeiro animal de palco. Com efeito, Cruz acabou o concerto com a testa em sangue, após alguns encontros imediatos de terceiro grau com o seu microfone, na linha das actuações do performer punk G.G. Allin.

Com uma assistência completamente rendida a seus pés, os DK realizaram ainda dois encores, que incluíram os clássicos “Viva Las Vegas”, “Holliday in Cambodja” e, por fim, “MTV Get Off the Air”, um momento com “menções honrosas” para N’Sync, Cristina Aguillera e Britney Spears.
O quarteto fantástico está de volta!

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